mar/22 | em Depoimentos
Professor visitante: Huyra E. Araujo
O Professor Dr. Huyra E. Araujo é nascido na região do Capão Redondo, na periferia da cidade de São Paulo e possui graduação em Física pela UFSCar e Mestrado e Doutorado na mesma Universidade na área de Ciência e Engenharia de Materiais. Desde 2014, ele trabalha no IFSP e foi professor visitante Jr. University of South Carolina de 2017 a 2018. Confira o depoimento do Fulbrighter sobre a experiência:
“Na oportunidade da candidatura, fiz o contato com alguns pesquisadores da minha área e me surpreendi pela receptividade. Quando recebi a notícia de aprovação no programa Fulbright, lembro-me até hoje que o maior motivo de felicidade seria a oportunidade de um estágio em outro país, sem o completo entendimento do da importância da Fulbright.
Somente com o início da experiência nos Estados Unidos pude compreender a força do programa no país, eu era surpreendido pelos inúmeros elogios todas as vezes que me apresentava como Fulbright Scholar.
Do ponto de vista acadêmico, a experiência permitiu-me construir outra perspectiva do trabalho colaborativo na minha área fazendo com que eu pudesse construir diversas pontes para colaboração e certamente trouxe-me grande impacto como pesquisador e como orientador. Desde o fim do programa, em 2018 até hoje, já foram finalizadas mais de 10 orientações, contando inclusive com estudantes premiados em eventos da área.
Contudo, por mais que o impacto na minha atuação enquanto pesquisador tenha sido muito produtivo, em orientações, prêmios e colaborações internacionais, certamente o maior impacto foi relacionado a experiência enquanto pesquisador negro.
Tive a oportunidade ficar na Carolina do Sul, um dos estados com histórico de segregação racial mais intenso no país. Embora a bolsa fosse para a área de Ciência dos Materiais, aproveitei inúmeras oportunidades para aprender sobre a dinâmica de segregação racial nos diversos espaços pelos quais passei, tendo inclusive a oportunidade de dialogar sobre as semelhanças e diferenças das relações étnico-raciais no Brasil e Estados Unidos, a partir de experiências de vivência. Assim, o retorno ao Brasil foi carregado de experiências em torno da área de Ciência dos Materiais, mas também de aprendizados sobre a existência ( sobrevivência ) de pessoas negras nos espaços acadêmicos ou ainda nas áreas de STEM. Passei inclusive a entender que eu poderia ocupar esse espaço, atuando em eventos de divulgação científica.
A partir de então, para além das atividades de pesquisa que continuo em desenvolvimento, passei a envolver-me nas discussões de diversidade étnico-racial e de gênero nos espaços. Atualmente, estou na coordenação do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas do IFSP com atuação por três anos como Consultor Técnico-Pedagógico em Currículos além de orientar diversos projetos de pesquisa na área de Ciência de Materiais. Ressaltam-se também os projetos de ensino e extensão que visam incentivar o interesse de estudantes de diversas idades na área de ciências por meio de discussões tecnológicas que coloquem em discussão a epistemologia do conhecimento das ciências dos materiais, com o destaque recente para o CeraMina, CeraMana – um projeto para incentivo de meninas de escolas públicas à participação e interesse na área de STEM, através da ciência dos materiais cerâmicos.
A experiência como Fulbrighter aprimorou e enriqueceu minha atuação como pesquisador, mas para além disso, tive a oportunidade de enriquecer minha visão sobre diversidade, conhecimento e minha responsabilidade como um pivô de transformação social local.”